Ingenuidade


Ainda te consideras ingénuo?
Eu tento sempre. Acho que a ingenuidade é uma qualidade em muitos aspetos. Faz-nos bem e faz bem aos outros. Não é ingenuidade ignorante, é dar uma oportunidade às coisas, ou despir-se dos preconceitos que nos empobrecem - porque vamos achar que já conhecemos tudo e perdemos a possibilidade de explorar, de nos deslumbrar. 
Quando as coisas não correram completamente mal, precisamos de coisas imensas para nos deslumbrar, quando já correram todo o mal que podiam correr já não nos conseguimos deslumbrar sequer. 
E perder esta capacidade é uma tristeza. 
Eu vim de um lugar, e tento não me esquecer disso, em que havia um baile e os velhos iam pôr-se ali e era um divertimento gigante, imenso. E não era porque não haviam outras coisas que fazer, era ‘o’ divertimento. Para eles, estar sentado na cadeira lá no jardim já era alguma coisa. E eu acho que com a quantidade de estímulos que existem, temos de fazer um esforço grande de nos encantar e de querermos descobrir e encontrar beleza em coisas simples.


José Luís Peixoto, em Abraço mesmo abraço,
entrevista para a Vogue Portugal

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